terça-feira, 28 de julho de 2009

COM A PALAVRA, O PREFEITO DO RJ!


Os membros do Conselho da Megazine já estavam acomodados na sala de reuniões, deixando vaga a cabeceira da mesa para o prefeito. Eduardo Paes entrou de supetão e sorridente, interrompendo a turma que já engrenava num papo nada a ver com política. Durante a entrevista, o tema teve vez, é claro, mas a galera foi além e perguntou sobre drogas (“Sou contra a legalização [...] Fumei maconha e não me arrependo”, ele respondeu); internet (“Tem um fake no Twitter, mas ele é tão falso que nem tentei tirar do ar”) e educação (“A rede municipal de ensino não é ruim. Mas, se você tem condição de pagar escola particular, ela é, na média, muito melhor. Mas não são todas!”). Paes também disse que não se importa de os jovens terem apoiado em massa Fernando Gabeira, durante a campanha. “Na boa, não tenho essa paranoia de buscar o público jovem. Quem votou votou, e quem não votou não votou... Mas acabou, ganhei e abraço para quem perdeu”. Ao final, o prefeito ainda mandou um tweet: “Acabei de dar entrevista para uma garotada da Megazine. Garotada esperta”.

CAIO CABRAL: Quando você começou a se interessar por política?

EDUARDO PAES: Cara, eu venho de uma família de classe média alta. Meu pai é advogado, e minha mãe, professora. Os meus 15 anos foram o momento de redemocratização no Brasil, e, apesar de ser de uma família sem envolvimento com política, fui sozinho a uma passeata do movimento Diretas Já. Aliás, se dependesse dos meus pais, eu não estaria aqui. Quando entrei na política, meu pai achou que eu tinha enlouquecido. Mas hoje eles têm orgulho do filho deles.

LUCAS DE TOMMASO: Você consegue separar os interesses do cidadão Eduardo do prefeito Paes?

PAES: Não dá muito para desvincular. Eu busco sempre ser um bom cidadão. Devo cometer meus erros, mas o mais importante na política é pensar sempre sob a ótica do cidadão. Sair um pouco desse mundo de “excelências” de Brasília, que é distante do cidadão. Busco tomar meu chope, toco na bateria da Portela, vou a shows... Tento levar vida normal, por mais que não consiga.

MAYÃ FURTADO: O que acha de políticos usando a web para se comunicar?

PAES: É um instrumento importante. Estou usando o Twitter (@eduardopaes_), mas às vezes me falta inspiração. Tenho cuidado para não ser chato, oficial. Tem um fake meu lá, mas ele é tão falso que nem tentei tirar do ar. Ele fala coisas tipo “estou indo à praia” no meio da semana. Até meus inimigos sabem que eu trabalho muito.

LUCAS: Seria um recurso para atrair os jovens? Eles não ficaram do seu lado na campanha para prefeito...

PAES: Na boa, não tenho essa paranoia de buscar o publico jovem. Não estou falando com a Megazine para buscar o jovem. Eu procuro ser um bom prefeito. Quanto à campanha, quem votou votou, e quem não votou não votou... Mas acabou, eu ganhei e abraço para quem perdeu. Vou governar para todo mundo.

DANIEL FRAIHA: Comente as polêmicas do Choque de Ordem. Houve exageros em alguns casos? Não teve medo de tirar a naturalidade do carioca?

PAES: Tudo que transforma gera polêmica. Mas fico apavorado com esse negócio de tirar a naturalidade do carioca. Eu gosto do meu chope... Tem que ter bom senso. O Bruno Ramos, subprefeito da Zona Sul, fez uma operação para tirar mesas da Rua Conde Bernadotte, no Leblon. Um absurdo, porque é um lugar superboêmio, e mesa ali não incomoda ninguém. São casos isolados, mas você vai ajustando. O Rio precisava de ordem.

MAYÃ: A escassez de transporte público e a violência podem reduzir as chances de o Rio sediar as Olimpíadas de 2016?

PAES: São problemas, mas podem nos favorecer. Porque Madri, Tóquio e Chicago (concorrentes) já têm tudo. Então, qual cidade seria mais impactada pelos Jogos? Se fizermos o dever de casa, os problemas contam a favor. Além disso, há várias obras com foco nas Olimpíadas.

DANIEL: E a proposta de universitários para pagar metade da passagem nos transportes públicos?

PAES: A UNE está fazendo estudos para amarrar bem, porque a meia tem que ser para o cara que não tem grana. Como você limita a quem precisa mesmo? Só ainda não mandei a proposta para a Câmara dos Vereadores porque a UNE não fechou o estudo.

LUCAS: As empresas de ônibus têm mesmo muito poder? Formam um partido, como o Cesar Maia falou?

PAES: Ao qual ele deve ser filiado, porque ficou na prefeitura por 16 anos e não avançou em nada nisso. As empresas têm força, mas, caso não se ajustem, essa força vai para o beleléu. Já está indo há um tempo e vai ainda mais.

DANIEL: Qual a sua posição sobre a legalização das drogas?

PAES: Sou contra a legalização, mas usuário de maconha não deve ser tratado como criminoso, é um problema de saúde pública. Na campanha, até disse que fumei maconha e não me arrependo de ter fumado. Mas não vejo legalizar como uma saída. Muita gente fuma, e a vida caminha. Mas, para outros, a maconha dá entrada a drogas pesadas. Cigarro também é uma desgraça. Eu paro de fumar e volto o tempo todo. É um horror.

DANIEL: Você levantou a bandeira da lei seca. Não acha que a tolerância zero seria desnecessária, se houvesse mais fiscalização antes?

PAES: Essa cultura de beber e sair dirigindo é inaceitável. Eu já fui jovem e garotão. Já tomei cerveja e dirigi depois. É muito arriscado.

CAIO: Os partidos políticos no Brasil perderam a ideologia. O que você acha da infidelidade partidária?

PAES: Não sou bom para falar sobre isso, admito... Os partidos não têm linha politica, mas isso não é argumento para justificar minhas mudanças. No começo, eu era do “partido do Cesar Maia” e mudei muito para segui-lo. Quando saí, fui para o PSDB, que depois troquei pelo PMDB para ser candidato a prefeito. Mas meu discurso eu nunca mudei.

CAIO: Fora Sarney? Fica Sarney?

PAES: O problema do Congresso não é o Sarney, é do Congresso. Tem que resolver com transparência. O parlamentar tem que dizer que precisa ganhar bem. Se comparar com salário mínimo, claro, já ganha uma fortuna. Mas tem que dar condições para trabalhar. Passagens de ida e volta para Brasília, boas condições de vida... Fico à vontade para falar, porque nunca paguei passagem de parente. Depois da eleição as coisas vão aparecendo... Tenho meus defeitos, mas nisso não me pegam. Eu frequentava Angra e ia para a Europa antes de virar político. Deixei de ir a Angra e vou menos à Europa.

LUCAS: Você se arrepende das críticas ao filho do Lula na CPI dos Correios, quando era deputado federal? E, depois, ao voltar atrás nisso, você acha que deu um bom exemplo?

PAES: Eu não voltei atrás. Eu tenho muito orgulho de ter integrado a CPI (ele foi relator-adjunto). Mas o meu erro foi, num ambiente político, atacar sem provas o moleque só porque ele é filho do presidente. E não tenho problemas em admitir meus erros. Não gostaria de adversários políticos atacando minha família.

CAIO: Você matricularia seus filhos numa escola municipal?

PAES: Matricularia, sim. Acho que a rede municipal de ensino não é ruim. Mas, se você tem condição de pagar escola particular, ela é, na média, muito melhor. Mas não são todas!