domingo, 9 de novembro de 2008

SHOW DO R.E.M.


Logo de saída, Michael Stipes, o vocalista do R.E.M. anunciou que a banda estava ali para fazer música. E foi o que aconteceu na HSBC Arena por duas horas na noite de sábado sem explosões, fogos, bonecos infláveis ou outra parafernália qualquer, apenas grandes canções executadas por músicos competentes nada preocupados em mostrar que sabem tocar. E três telões, um grande de leds para efeitos ao estilo psicodélico e pop art e dois laterais para a banda e vídeos ilustrativos.

Michael Stipes, 48 anos, Mike Mills, 49, e Peter Buck, 51, estão na estrada há 28 anos, passaram pelos altos e baixos comuns a carreiras longas e vivem um grande momento a bordo do CD “Accelerate”, lançado em abril, com 11 boas canções em apenas 34 minutos, sem firulas.

Assim foi o show: 24 músicas sem firulas em que a banda trouxe o público de 1985, com “Driver 8”, até o presente. Uma delas foi tocada pela primeira vez na turnê sul americana iniciada em 29 de outubro na Colômbia, “Exhuming McCarthy”, uma denúncia contra tentativas de se trazer aos nossos dias o clima de caça às bruxas dos anos 50 (a letra tem a frase “o senhor não tem um pingo de decência, senador”, com que McCarthy foi desmascarado por um colega do Senado e Stipes colocou um gravador com sua reprodução no microfone.

Após a abertura de Fernando Magalhães, do Barão Vermelho, em show de seu álbum instrumental com profusões de solos que lembravam de Joe Satriani a Jeff Beck, passando por meio mundo de guitarras, esperou-se meia hora para o R.E.M.. O palco é muito simples. Teclados nas duas pontas em estantes de madeira de instrumentos vintage. Dois amplificadores ampeg para o baixo Fender de Mike Mills, uma bateria simples (mas com dois surdos) de Bill Rieflin, músico contratado egresso do heavyssimo grupo Minister. Amplificadores miúdos cheios de bonecos de dinossauros em cima para a guitarra de Peter Buck, na maior parte do tempo uma Rickenbacker parecida com a que John Lennon usava no começo dos Beatles. Scott McCaughey é um R.E.M. honorário, ele se reveza entre guitarra (Gibson SG e Les Paul, Rickenbacker e outras), baixo, gaita e teclado, um verdadeiro coringa.

Além das costumeiras médias com o público tipo “Amamos o Brasil”, “estamos felizes de estar aqui” (lembrei de Keith Richards “é muito bom estar aqui, é muito bom estar em qualquer parte”), Stipes disse que a banda estava “fucking happy” com a eleição de Barack Obama, que apareceu no telão central, anunciou que havia um estande da Anistia Internacional no recinto, pediu que todos se informassem e se tornassem membros. Ele agradeceu a Fernando “Magalhões” pelo show de abertura e foi para a frente do microfone com uma lata de cerveja “Não sei como pronunciar isso...Itapava? É muito boa”, afirmou, engolindo o “i” e endossando uma “loura” não muito popular entre os cervejólogos. E pensar que tem banda brasileira que pede cerveja importada no camarim.

Depois de um “boa noite galera do Rio” no telão a banda entrou a mil com a faixa de abertura de “Accelerate”, “Living well is the best revenge”, deu uma segurada em “These days” e engatou a quinta em “What’s the frequency Kenneth?” com o vocalista mostrando seus dotes no balanço das cadeiras. Além dele, o único que se movimenta no show é o baixista Mills, que desceu duas vezes para agitar perto da galera da pista vip (420 reais).

Fonte: matéria jornal O Globo online